O Turista

A Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood pediu para ser zoada por Ricky Gervais quando colocou O Turista (The Tourist) entre os melhores de 2010 no Globo de Ouro, mas não dá pra condená-la por enquadrar o filme na categoria das comédias. Da trilha de James Newton Howard aos policiais italianos caricatos, tudo aqui tende para o humor.

E seria uma comédia com potencial se o diretor Florian Henckel von Donnersmarck não levasse a coisa tão a sério. Em seu primeiro trabalho hollywoodiano, o alemão de A Vida dos Outros se comporta mais ou menos como o holandês Anton Corbijn quando fez sua estreia hollywoodiana, Um Homem Misterioso. São dois filmes que lidam de forma solene com um gênero que a indústria banalizou, o thriller de espionagem.



Nessa aproximação respeitosa, Corbijn se sai melhor. Von Donnersmarck patina. O alemão se encanta com o star system (filmar os protagonistas só na base do close-up engessa a ação e deixa a canastrice mais evidente) e não tem autoridade ou competência para refinar o roteiro, que consegue ser esperto nas frases de efeito e bem burro na exposição (quantas vezes os capangas russos repetem para não atirar no cara?).

Ah, sim, a sinopse. O remake de Anthony Zimmer - A Caçada (2005) coloca Angelina Jolie para viver uma inglesa (sotaque forçado = humor involuntário) que está sendo vigiada pela Interpol porque seu amado é um fugitivo da justiça. Ela usa um turista dos EUA como isca, no caminho até Veneza, para poder se reencontrar secretamente com o ladrão. Obviamente, nada sai como planejado.
Johnny Depp interpreta o turista, inicialmente, com uma cara de inocência à la James Barrie, e depois, quando precisa correr, incorpora Jack Sparrow. A pantomima na construção do personagem e a insistência com os gracejos (ele fala espanhol no lugar de italiano) fazem o filme pesar de vez para o lado cômico. Estabelece-se, então, um acordo velado: a gente vai assistir a O Turista na brincadeira e, assim, quando a estapafúrdia reviravolta final acontecer, vamos encará-la só como mais uma piadinha.

Só faltou combinar o acordo com o diretor, que justifica o estereótipo de que alemão não tem senso de humor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário