Ao acompanhar as propagandas eleitorais que ora são transmitidas na televisão, não é raro se ver candidatos “soldados”, “sargentos”, “cabos”, “tenentes” etc. Talvez, a profissão policial militar só chega a ser comparável com a de professor – também intensa na alcunha dos candidatos. “Vote cabo fulano, deputado federal, por uma segurança pública melhor”, dizem. Uma das principais causas dessa incidência é a natureza da função PM, que é comunitária, política. Longe de ser uma atividade encerrada em gabinetes e cartórios, ser policial militar dá a oportunidade de interação entre o policial, seus colegas de trabalho e a comunidade da localidade onde trabalha.
Apesar desse potencial oferecido pela profissão PM, as polícias militares brasileiras estão bem aquém de fomentar em seus policiais, notadamente naqueles que estão no serviço de rua, o espírito dum verdadeiro líder comunitário. Desse modo, considero que aqueles policiais que se tornam lideranças comunitárias, de fato, são exceções, e aqui não levo em consideração lideranças ilegítimas, como os criminosos compositores de milícias, que infundem medo e corrupção nas comunidades.
Apesar desse potencial oferecido pela profissão PM, as polícias militares brasileiras estão bem aquém de fomentar em seus policiais, notadamente naqueles que estão no serviço de rua, o espírito dum verdadeiro líder comunitário. Desse modo, considero que aqueles policiais que se tornam lideranças comunitárias, de fato, são exceções, e aqui não levo em consideração lideranças ilegítimas, como os criminosos compositores de milícias, que infundem medo e corrupção nas comunidades.
Quando um policial pode ser considerado uma liderança comunitária? Primeiro, é preciso que ele tenha fluidez social na área em que atua. Deve ser conhecido e bem relacionado com as demais lideranças da região: professores, médicos e enfermeiros dos postos de saúde locais, comerciantes, taxistas, e toda a gama de cidadãos que, por algum motivo, são referência naquela localidade. É fundamental que dialogue e interaja com moradores, um contato que vá além do visual, além da distância estabelecida pela viatura motorizada, em que policiais se resumem ao encastelamento dum ser mitificado, aprofundando os estigmas existentes.
O policial líder comunitário precisa ter capacidade de negociação, reflexão e subjetividade. Tendo a legalidade como baliza, deve ser um sujeito flexível, apesar de austero e preciso na aplicação da lei. Trata-se de um perfil no qual os cursos de formação PM precisam investir, fugindo do comando e controle comum ao ensino das forças armadas, que têm missão e funções diferenciadas. É preciso abandonar o modelo em que a adesão à criatividade e à inovação se torna negativa, justificando a máxima de que o policial “não pode aparecer”. Para ser um agregador comunitário é preciso, sim, aparecer – como liderança e negociador.
Para ter autonomia na ponta, policiais que atuam nas ruas sendo verdadeiras lideranças, é preciso que os comandantes sejam grandes gerenciadores, pois ter de fato um policial comunitário, é perder, em certo modo, o poder. Ou melhor, é perder a centralização do poder. Caso o soldado não esteja alinhado adequadamente com os objetivos de seu comandante, existe o risco das intenções serem desvirtuadas, daí a necessidade de acompanhamento e feedback.
Como se vê, não é simples estabelecer uma “polícia comunitária”. Atualmente existem ações em todo o Brasil que dão bons exemplos de eficiência na parceria entre comunidade e polícia, todos eles desagregados, isolados duma política global que direcione as corporações policiais militares para ter o policial comunitário como a essência do seu serviço. Em algumas localidades, essa política já não poderá se implementar sem confrontos, pois as barricadas do crime, principalmente o ligado ao tráfico de drogas e armas, já se impuseram.
Além do confronto armado, o confronto de mentalidades é necessário, pois ainda se associa polícia comunitária a polícia leniente com a criminalidade. Por fim, o confronto político-midiático, que nos faz direcionar esforços tendo em vista o clamor da opinião pública. O certo é que quanto mais demoramos a encarar esse processo complexo, que exige marchas e contramarchas, mais tarde avançaremos na efetivação da paz pública.
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